24 de agosto de 2011

#Estásdebroma: Qualquer semelhança não é mera coincidência

O “Estás de broma?” de hoje vem num formato diferente e nós adoramos isso! Afinal, criamos esse espaço para que os leitores relatem, com suas próprias palavras, uma situação, opinião, alerta, lembrança, perigo que um dia passou durante uma viagem. A nossa autora de hoje chama-se Tatiana Notaro (@tnotaro). Jornalista, ela relata a realidade da capital Luanda/ Angola, onde passou 10 dias de férias bem inusitados. Mais que uma perspectiva pessoal, Tati procura derrubar alguns mitos que são espalhados sobre o país e o continente Africano – lugar que, segundo ela, vale a visita sim!! Confiram:


“Depois de 10 dias em Luanda, além de imagens da viagem, achei válido também expor algumas impressões sobre a capital angolana, até mesmo para dar pistas que desmistifiquem algumas coisas. Primeiro, houve quem perguntasse porque a maioria das minhas fotos são tiradas de dentro do carro. Bem, os relatos que ouço aqui é que tirar fotos em espaços públicos não é um ato muito bem visto, principalmente aos olhos da polícia. Uma pessoa me contou que, nos primeiros meses aqui, fotografando um empresarial, foi interpelada por um policial e levada pra uma esquadra (delegacia) por causa disso. Acabou prestando alguns esclarecimentos e "solta" no final do dia, mas não sem antes passar pela truculência das autoridades locais. Meu pai vive reclamando comigo no carro, dizendo que eu vou acabar causando algum constrangimento por ficar tirando foto de tudo.

Segundo que Luanda não tem movimentação turística. Potencial tem - pelo menos eu tenho gostado da cidade, mas o que me dizem é que não existe isso de solicitar visto de turista ao consulado angolano. Aqui, só a trabalho. Entrar no país, só a "convite" de uma grande empresa. E olhe lá...

Terceiro. Luanda é uma cidade cara. Caríssima. Hotéis médios chegam a cobrar o equivalente a US$ 350 por uma diária. O estacionamento do único shopping da cidade custa US$ 4, mais ou menos. Bom aqui é o preço do combustível: Kz 60 (o litro da gasolina) e Kz 40 (o litro do gasóleo, como eles chamam o diesel). Aqui, o sistema de transporte público é altamente deficiente.

E o quarto item: quase não há ônibus de linha (vi uns cinco, esses dias todos), não vi táxis como os que nós conhecemos no Brasil e o que circula pelas ruas fazendo o serviço são umas vans que eles chamam de kandonga. Elas não têm tarifa definida nem seguem regras que determinam número de passageiros ou itinerários. São um dos motivos do trânsito daqui ser como é.




                                                                                         (Foto: Tatiana Notaro)
Trânsito em Luanda: sistema de transporte quase inexiste

Quinto. Não vi hospitais públicos aqui. Meu pai disse que eles não existem e, em caso de doença, a população precisa pagar "gorjetas" para ser atendida em particulares.

Sexto: o sistema previdenciário é recente, então os já idosos estão totalmente desamparados.

Em sétimo lugar, em Luanda quase não há escolas particulares. O ensino público, como é de se esperar, não é nada bom, principalmente por falta de professores, e as poucas instituições particulares são caras. As mensalidades têm que ser pagas de uma vez, no início do ano letivo, que é no mês de agosto. Cifras que superam US$ 40 mil. Para um povo que tem salário mínimo de Kz 17 mil (US$ 170), não dá nem pra sonhar...

Oitavo e último. Algo em torno de 25% dos angolanos têm Aids, mas esse é um dado que eu ainda quero confirmar. Será que eles me recebem no Ministério da Saúde?
E como tenho dito: qualquer semelhança conosco não é mera coincidência. Corrupção aqui também é algo latente e propagado."

Gostaram do texto de Tati? Ela também é autora de um blog, o Intracranianos: http://intra-cranianos.blogspot.com/ , onde fala sobre diversos assuntos numa linguagem leve e embasada. Essa viagem para a África também virou blog (de onde tiramos esse texto). Confira as fotos: http://www.10diasemangola.blogspot.com/

Agora queremos saber de você! Toparia passar férias em Luanda?

Um comentário :

  1. Pelo visto (ou falta dele), Luanda é que não quer que eu passe as férias lá!

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