16 de abril de 2012

#DoFrevoaoTango: A lei do saleiro

Mochilera Rafa

Depois de receber visitas de amigos brasileiros e de frequentar alguns restaurantes, entrei em um debate interno sobre a forma de cozinhar dos bonaerenses (quem vive em Buenos Aires). Fiquei me questionando por vários dias: “como é que se come sem sal?”. Falta sal nas parrillas, bifes de chorrizos, ensaladas, papas fritas, pescados, pollos e até nas mesas dos estabelecimentos (restaurantes, lanchonetes, padarias, bares). Toda vez, tinha que pedir ao garçom o saleiro. Então, na santa inocência, ficamos reclamando de que argentino não sabia fazer churrasco! Coisa feia, né? Fiquei morta de vergonha por achar isso quando descobri o real motivo de não se usar tanto sal na comida por aqui. O uso do condimento é regulado por LEI, ou seja, os saleiros estão PROIBIDOS de serem oferecidos, com exceção do light!!


(Crédito: Google Imagens + Rafaela Aguiar)
Se você quiser salgar a comida, vão te oferecer o "sal light" 


Eu descobri isso da maneira mais popular possível: fazendo as unhas no salão de beleza. A pedicura estava me perguntando se já comecei a sentir saudades da comida de casa e se estava gostando da argentina. Fui logo comentando que estava gostando sim, mas tentando me adaptar a falta de sal em algumas comidas. Ah, ela foi logo enchendo a boca, toda feliz, para dizer que isso é por conta da “lei do sal”, imposta pelo governo de Buenos Aires e que algumas outras províncias próximas também estão regulando a quantidade de sal da comida dos argentinos. Além disso, a funcionária me disse que, apesar de ser uma regra, é para o bem e saúde de todos que estavam exagerando na dose e tendo muito problemas de hipertensão. Ok, fiquei curiosa com o fato e comecei a perceber que isso fazia certo sentido.

Fui perguntar ao “tio Google” e me confirmou isso. Já quase no fim de janeiro deste ano, entrou em vigor a lei 14.349, sancionada no fim de novembro de 2011, pelo governo da província de Buenos Aires. A norma obriga todos os restaurantes a alertarem em seus cardápios que o uso em excesso do sal é prejudicial à saúde e, por isso, terão que oferecer um “sal light”. Segundo uma matéria publicada no La Nación sobre o assunto, “esta norma segue outra que, com o mesmo objetivo, impôs a retirada do saleiro nas mesas dos restaurantes, evitando a tentação de colocar mais sal na comida, cujo excesso pode causar acidentes vasculares, hipertensão e outras doenças”. Ah, nesse caso, a comida também vem com uma quantidade de sal mínima ou “insossa”.


(Crédito: Reprodução)
Lei obriga que restaurantes avisem os problemas causados pelo sal


O objetivo, de acordo com o jornal argentino, é diminuir o consumo diário de sal por pessoa de 12 a 5 gramas em 2020. Isso significa a redução de 6 mil mortes e de 60 mil pessoas com doenças cardíacas, por exemplo. A matéria ainda traz um estudo que, em 2009, ficou comprovado que a população local não tem hábitos saudáveis, comendo poucas frutas e verduras, colocando muito sal na comida (mesmo já salgada durante o preparo) e aumento de pessoas que não têm uma atividade física diária. Além disso, lógico que eles querem reduzir os gastos com saúde pública no futuro. Não é apenas para ver os argentinos felizes e saudáveis para sempre. Bom, mas isso não vem tão ao caso assim... O descumprimento da norma pode implicar multa de 300 a 5 mil pesos! Então, ninguém vai te oferecer sal se você não pedir, ok!

Sabendo disso tudo, realmente não achei muito ruim essa imposição do governo e comecei a refletir no uso do sal aqui de casa também. Andei degustando todas comidas citadas acima utilizando menos o saleiro. O gosto, no fim das contas, não é tão ruim assim. O segredo é aceitar as diferentes formas de se preparar os alimentos e, no meu caso, me acostumar com isso. Se você que vem por aqui comer e não curtir, pede o tal "sal light". Aproveito este post para que todos comecem a refletir a sua rotina alimentar. Sei bem que brasileiro adora o velho e bom sal em tudo, exagerando até na dose. Então, quem ai não larga o saleiro por nada?

2 comentários :

  1. Independente dessa lei o asado argentino é realmente bem menos salgado que o brasileiro. Desde sempre ele colocam o sal na carne justo quando ela vai ao fogo e apreciam o sabor da carne sem sal mesmo.

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    1. Pois é, Erick! Eu, particularmente, curti bastante essa história do asado ou bife de chorizo, enfim, não ser tão salgado assim. Dá para sentir bastante o gosto da carne e é uma delícia! Já meio que me acostumei com esse sabor! Bom, vai do gosto de cada um! =D

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