29 de agosto de 2011

Bondinho de Sta Teresa: uma tragédia anunciada

Mochilera Sabri

Sempre quando eu conversava com alguém sobre viagem ao Rio de Janeiro, dava (e ainda dou) ênfase ao passeio em Santa Teresa, à beleza do lugar, os barzinhos lindos e deliciosos, o clima descolado da pessoal que mora por lá, e claro: o charme de se chegar lá de bondinho. Inaugurados em 1877, os bondes ainda funcionam e são os principais meios de transporte para o bairro, que fica lá no alto.

Apesar de eu ter ido mais de uma vez a Santa Teresa através desse veículo e até recomendar o passeio para muita gente, nunca me senti segura naquele transporte. As duas vezes que fui, adorei, mas não deixei de ter medo. Quem foi alguma vez a turismo, sabe do que estou falando.

E meu medo não era à toa: neste sábado, infelizmente o bonde descarrilou, matando cinco pessoas (entre elas o maquinista) e deixando mais de 50 feridas (!!!). Aí você pensa: “Como assim 50? E ali cabia isso tudo?” Não, não cabia. E é por isso mesmo que você sabia que aquilo era uma tragédia anunciada, mas que as autoridades fingiam não enxergar.


(Foto: internet)
Lá em cima, você lembra como um cinto de segurança é importante

As duas vezes que fui, a fila para o passeio era grande. Como são poucos bondinhos, você esperava bastante. Quando o pessoal começava a entrar, lotando os bancos, a empresa chamava quem queria ir em pé. Muita gente, cansada de esperar, passava correndo e topava ir pendurada no veículo. Outros, que já estavam acostumados (como moradores) até preferiam ir em pé mesmo. Na primeira vez que andei, fiquei super tensa por ver até crianças penduradas para o lado de fora, com o bonde em velocidade, mas nem o maquinista e o cobrador falavam nada. Pelo caminho, muitas pessoas subiam e desciam também, às vezes com o carro até em movimento.

Outra coisa que me incomodou foi a falta de cintos. Quando você passa por cima do Arqueoduto da Lapa, você sente falta deles na hora. Imagino que no último sábado, o bondinho saiu assim: lotado. E aliado à falta de manutenção (que eu imaginava que era feita, por se tratar de um meio de transporte tão popular do RJ), deu-se no desastre.

                                                                                               (Foto: Bruno Agostini)
Bondinho de Santa Teresa: sempre lotado

Uma tristeza! Primeiro, pelas vítimas (ali, podia estar eu ou você). Segundo, pelo turismo que parece não ser levado a sério ainda no Brasil. Terceiro, porque tudo isso poderia ser evitado, se fosse bem cuidado e operado com mais segurança. E esse não é o primeiro acidente (Em junho, um turista morreu ao cair lá de cima do arco, e nada foi feito. Fora muitos outros que aconteceram antes). Quarto e último, porque isso mancha a cidade do Rio de Janeiro e do País lá fora.

O desabafo vem para reforçar (até para mim mesma) que precisamos ter cuidado redobrado em lugares desconhecidos. Turista é afoito por natureza, acha que tem sempre um “anjo da guarda mochileiro” por perto. Mas, infelizmente, não é assim. Conheça tudo, mas não se arrisque em lugares que você não sente firmeza. Pra que ir em pé? Pra que ir mais alto? Pra que ir de madrugada? Pra que ir por um lugar menos indicado? Pela trilha mais perigosa? Seguro, morreu de velho.

#Dica básica: Pergunte sempre aos moradores da cidade (de confiança, como recepcionistas de hotéis) o que não se deve fazer, onde não se deve ir, como não se deve andar. Eles sempre terão as melhores informações. E respeite seus medos, não se arrisque! Quem sabe se aquele turista que caiu lá de cima tivesse ouvido alguém local, que falasse sobre o perigo de andar ali pendurado, sobre os acidentes anteriores, sobre a possível falta de manutenção do bonde, sobre a realidade brasileira no quesito segurança...o acidente não poderia ter sido evitado? :(


Obs: Já falamos sobre cuidados na viagem aqui, através da experiência de duas leitoras. Uma, aconteceu na China e a outra no Rio Grande do Sul. Relembre.

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